segunda-feira, 22 de julho de 2002

tudo que recebo por e-mail e acho legal mando pra cá... nem sempre são coisas que me criam algum problema, mas me sinto responsável qd não é uma verdade fiel!!! Então aqui está uma retratação... Desculpe-me... como tantas outras coisas na vida, fui levada pela emoção de uma causa que eu julgo BOA!

"Socorro! Rubem Alves

Milan Kundera, contestando aqueles que pensam que os regimes comunistas da Europa foram obra exclusiva de criminosos, observa que os regimes criminosos não foram feitos por criminosos. Foram feitos por entusiastas ? entusiastas são aqueles que têm um deus dentro de si mesmos - convencidos de terem descoberto o único caminho para o paraíso. Possuídos pela certeza de saberem o caminho para o paraíso eles acharam justo destruir aqueles que se colocavam no seu caminho. Quem se opõe ao paraíso só pode ser do demônio...

O que disse Kundera sobre situações políticas extremas tais como as ditaduras, eu creio ser verdadeiro também para a política comum. Política e guerra são duas expressões do mesmo jogo, o jogo pelo poder. Tanto na guerra quanto na política, para se atingir o poder, condição necessária para se criar o paraíso, é preciso destruir o inimigo. O inimigo é aquele que rejeita o caminho para o paraíso e que deve, portanto, ser destruído. A guerra usa armas para destruir os inimigos. Também a política, com armas de outro tipo. Qualquer arma é legítima. O que importa é não ser pego.

E agora eu, que nunca fui afiliado a partido algum, que nunca compareci a comício, que penso política da mesma forma como o jardineiro pensa jardins, me descubro no meio da guerra, sob fogo cerrado, e-mails e cartas sem conta me pedindo explicações, a mais espetacular expressão desse fogo tendo sido um artigo publicado por Olavo de Carvalho no O Globo, seção Opinião, no dia 15 de junho, com o título A arrogância da incultura, em que ele me acusa de incultura pretensiosa, politiqueiro de cátedra, apregoador de tolices, emporcalhador da minha cátedra, enganador de alunos, etc (o artigo inteiro pode ser lido na minha homepage). Por que tudo isso? É que um guerreiro desconhecido resolveu usar-me como arma, isto é, como instrumento de ataque do seu partido. E isso sem que eu soubesse. Era portanto de se esperar que também eu fosse atacado, enquanto o dito guerreiro está escondido no seu anonimato.

A causa de tudo isso foi um artigo que esse desconhecido, provavelmente guerreiro do PT, está fazendo circular pela Internet, e que escrevi há doze anos, há doze anos... Era o segundo turno das eleições: Lula versus Collor. Os partidários de Collor, seguindo a lógica do "guerra é guerra", tentavam destruir o Lula, alegando sua educação rústica, seu domínio precário da língua, sua escolaridade deficiente. Achei esses argumentos anti-éticos pois, se pedigrée social e escolar fossem pré-requisitos para alguém se candidatar a uma posição política, nossas leis deveriam ser modificadas. Lembrei-me, então, de que os mesmos argumentos poderiam ter sido usados contra um notável presidente norte-americano, de origens rústicas e escolaridade precária, pois se formara por correspondência, Abraham Lincoln. Escrevi então um artigo-armadilha, propositalmente em estilo grosseiro, em que fazia chacota de um rústico ignorante que queria ser presidente da República. A retórica era para levar os leitores a pensar que eu falava sobre o Lula. Mas então, subitamente, a rasteira: "Guardem seus sorrisos e ódios. Estou me referindo a Abraham Lincoln". Notem: em nenhum momento comparei Lula a Lincoln. Tal comparação seria tola. O alvo do meu ataque era o argumento-arma que estava sendo usado. Pois é esse artigo, com o meu nome, sem minha autorização, que está circulando, sem data, como se eu o tivesse escrito hoje. Hoje eu jamais o escreveria porque a situação é totalmente diferente.

E é por isso que eu me encontro no meio do fogo, fogo que vem de fora, fogo que cresce dentro, a adrenalina que faz o seu trabalho...

Estou, assim, publicamente desmentindo quaisquer tentativas de ligar o meu nome à cadidatura do Lula. A esse respeito remeto os meus leitores ao meu último artigo publicado nessa seção, O buraco da fechadura.

Espero, assim, que com esse desmentido eu volte a ter paz para usar o meu tempo nas coisas que me dão alegria..." (Folha de S. Paulo, 2002)

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