segunda-feira, 30 de junho de 2003

recebi de uma grande amiga.... adri veras.... saudades..... n?o tenho certeza se o texto ? da rita... que seja... ? verdadeiro... leia!!!!!!!!

Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor.

Vinha da vizinhan?a, da casa de Bete. Mocinha linda, que usava tran?as. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de n?o ser mais virgem e os dois irm?os a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o m?dico da fam?lia lhe enfiasse a m?o enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou n?o o selo da honra. Como o lacre continuava l?, os pais respiraram aliviados, mas a Bete nunca mais foi ? janela, nunca mais dan?ou nos bailes e acabou fugindo para o Piau?, ningu?m sabe como, nem com quem.

Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria L?cia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada, n?o conseguiu passar no exame ginecol?gico. O laudo m?dico registrou "vest?gios himenais dilacerados", e os pais internaram a pecadora no reformat?rio Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.

Estes epis?dios marcaram para sempre a minha consci?ncia e me fizeram perguntar que poder ? esse que a fam?lia e os homens t?m sobre o corpo das mulheres.

Ontem, para mutilar, amorda?ar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estere?tipos. Todos vimos, na televis?o, modelos torturados por seguidas cirurgias pl?sticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas. Entupiram as n?degas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substitu?ram os narizes, desviaram costas, mudaram o tra?ado do dorso para se adaptarem ? moda do momento e ficarem irresist?veis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria provocaram em muitas outras mulheres ? as baixinhas, as gordas, as de ?culos - um sentimento de perda de auto-estima. Isso exatamente no momento em que a maioria dos estudantes universit?rios (56%) ? composta de mo?as. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa cient?fica, na pol?tica, no jornalismo. E no momento em que as pioneiras do feminismo, passam a defender a teoria de que ? preciso feminilizar o mundo e torn?-lo mais distante da barb?rie mercantilista e mais pr?ximo do humanismo.

Por mim, acho que s? as mulheres podem desarmar a sociedade. At? porque elas s?o desarmadas pela pr?pria natureza. Nascem sem p?nis, sem o poder f?lico da penetra??o e do estupro, t?o bem representado por pistolas, rev?lveres, flechas, espadas e punhais.

Ningu?m diz, de uma mulher, que ela ? de espadas. Ningu?m lhe d?, na primeira inf?ncia, um fuzil de pl?stico, como fazem com os meninos, para fortalecer sua virilidade e viol?ncia. As mulheres detestam o sangue, at? mesmo porque t?m que derram?-lo na menstrua??o ou no parto. Odeiam as guerras, os ex?rcitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua conviv?ncia e os colocam na marginalidade, na inseguran?a e na viol?ncia.

? preciso voltar os olhos para a popula??o feminina como a grande articuladora da paz. E para come?ar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher.

Respeito ?s suas pernas que t?m varizes porque carregam latas d'?gua e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o pa?s nas costas. S?o as mulheres que impor?o um adeus ?s armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer a ternura de suas mentes e do?ura de seus cora??es. Nem toda feiticeira ? corcunda, nem toda brasileira ? bunda. E meu peito n?o ? de silicone; sou mais macho que muito homem.

Rita Lee

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